Nome:
Vergalho do Desmantelo
Tema:
Festa, Valentia e Luta
Autor:
José de Arestides de Oliveira
Local:
Povoado Melancia, Nova Soure Bahia
Data:
1983
Estrofes:
40 de seis versos de sete sílabas (sextilhas)
Esquema de Rima:
Das sextilhas: xaxaxa; das septilhas: xaxaxa (rima chamada aberta, porque o 1º e 3º não rimam com nenhum outro).
Final:
Estrofe normal

Nestes versos existem vários erros de Português, como sintaxe e concordâncias. Estes erros são cometidos para que haja rima entre os versos.
     
  No ano de 82
A certo tempo passado
Eu vi grande desmantelo,
Num pequeno povoado
Cinco horas da manhã,
O sol já tinha raiado.
 
   
  Houve uma grande festa
No povoado Melancia,
Que lá o fole roncou
Até manhecer o dia,
Depois de tudo acabado,
Apareceu valentia.
 
   
  Um forró bem animado
Que levantava poeira,
A data estou esquecido
O dia foi quarta-feira,
Até velha caiu na dança
Foi aquela fuzueira.
 
   
  Surgiu uma dança nova
Que chamam de São Paulinho,
É uma dança ligeira
Um tal de puladinho,
Só falta aparecer
A dança do inferninho.
 
   
  Tinha uma velha dançando
Que dava lição as mocinhas,
Não sentava os pés no chão
Pela rapidez que tinha,
Aquela dançou no inferno
Assim me disse a vizinha.
 
   
  Vou mudar de assunto
Deixando a festa de lado
Vou contar como foi
A briga no povoado
De onde surgiu o destroço
E o desmantelo criado
 
   
  Quando a festa terminou
Foram mais de dez convidados
Pra tomar uma pinguinha
E bater um papo furado
Foi aí que aconteceu
O que não era esperado
 
   
  Não sei se foi mal entendido
Ou se foi premeditado
Eu sei que formou o barulho
E o desmatelo criado
Começaram dentro de casa
Foram muitos moveis quebrados
 
   
  Foi de faca e de punhal
Canivete e facão
Reio cru, cacete
Taca, espora e gibão
Teve ate macaio de boi
Pra completar o batalhão
 
   
  Antes de aparecer
A turma do deixa disto
O barulho já formado
Como nunca tinha visto
Entrou mulher pelo meio
Segurando o seu quiço
 
   
  Pulou fora pra o terreiro
Com um mancaio na mão,
A mulher vinha azeda
Disse: Bato até na mãe do cão,
Dava pulo e ponta pé
Que eu vi o pelo do gibão.
 
   
  A turma do deixa disto
Que já se achavam presente
Começaram logo agir
E alcampar os valentes
Onde já tinha um gritando
Agarrado nos dentes
 
   
  Vou contar pra vocês
Como foi a confusão
Como era que brigavam
No meio do barulhão
E os que levaram pancadas
Qual foi a reação
 
   
  Teve um que tomou taca
Pela cara que tinia
Não podendo descontar
Como cobra se mordia
Era uma raiva tirana
Na hora que o pau decia
 
   
 

A mulher que ali estava
No meio da confusão
Pulava e suspendia a saia
Com o vergalho na mão
Gritando: chaga marido!
Mata este filho do cão

 
   
 

Ela deu um ponta pé
E caiu de mal jeito
Levou uma raladura
E desmentiu o regeito
Eu sei que neste momento
Já estavam brigando no beco

 
   
  Pizaram numa cachorra
Magra e empestada
Um cara do deixa disto
Saiu com a calça melada
O xexéu ninguém guentava
Me parecia privada
 
   
  Com um cara muito afoito
Esta foi de amargar
No meio da confusão
Eu vi o cara pular
Caiu com o rosto numa tuia (ruma de fezes)
E não teve tempo de limpar
 
   
  Eu pude observar
Que no meio da confusão
A mulher estava pulando
Me parecia lampião
Brigando de todo jeito
Com o macaio na mão
 
   
  Sapecou o vergalho
Nas costas de um ciclano
Que o vinco logo saiu
Eu vi por debaixo do pano
Vi também que o sujeito
Cagou se não me engano.
 
   
  Seu marido deu um soco
Na boca de um xexéu
Seus dedos ficaram seguros
Na boca do tabaréu
E ele ficou gritando
Valei-me meu Deus do Céu!
 
   
  No meio da confusão
Apareceu um pinico
Arremessaram na cabeça
Dum cara do deixa disto
Foi grande a pinicada
Que o cabra caiu catando cisco
 
   
  Foi a briga se alastrando
Por todo o povoado
Quem estava no bom sono
Havia logo acordado
Quem estava com vontade
Saiu logo pra ver o estrago
 
   
  Nos quatro canto da rua
Só se ouvia o pau comer
A turma do deixa disto
Não sabia o que fazer
Entraram também na briga
Que fazia pena se vê
 
   
  Um cara do deixa disto
Pulava mais que macaco
Deu um soco tão forte
Que desmentiu o braço
O cabra caiu quieto
Pois acertou no cachaço
 
   
  Outro saiu do beco
Com uma lata na mão
Deu uma latada tão grande
Pensei que era um trovão
Acordou quem ainda estava dormindo
Foi um barulho do cão
 
   
  Um pulava par cá,
Outra arrastava para lá,
Um saiu de quatro pés
Levou um chute naquele lugar,
Aquele saiu quebrado
O que tinha de quebrar
 
   
  Teve um que estava bêbado
Entrou na confusão
Levou um ponta pé
O lugar não digo não
Este caiu na gandaia
Segurando com as mãos
 
   
  Teve mais um afoito
Que em todas se achava
Dava tapa e tomava
Mas a briga não acabava
Levou um chute por detraz
Que o sapatão quase entreva
 
   
  A mulher não se cansava
Passava até capoeira
O vestido não se fala
Ficava naquela maneira
E o malandro lá de fora 
Gritava:Olha a carteira
 
   
  A mulher baixou a macaxeira
Deu um chute por detraz
O fulano saiu rodando
Aquele não voltou mais
E ela ficou zombando
E assim que mulher se faz
 
   
  A dita cuja pula
E não soltava o mancaio
Gritava em toda altura
Estou virada no sarraio
Se eu estivesse com uma faca
Lhe mostrava logo o taio
 
   
 

O mancaio quando subia
Era certeira a pancada
O vinco logo subia
A calça era melada
A suplicante quando batia
Não escolhia camarada

 
   
  Apareceu um sarí de fumo
No meio do desmantelo
Deram uma cacetada
Mas o fulano foi mais ligeiro
Acertou no mais bobo
Que caiu como carneiro
 
   
  Teve um que foi entrar
Na casa com rapidez
Levou um chute na bunda
Que entrou de uma vez
Bateu a cabeça na portada
Caiu por cima de três
 
   
  Uma velha fuxiqueira
Daquelas que usam e gostam
Saiu para ver o barulho
Ficou ali encostada na porta
O vergalho logo baixou
Subiu um cheiro de bosta
 
   
  Ate que melhor
Foi acalmando a zoada
O último empurrão que ví
Esta não fez mais nada
A turma do deixa disto
Estavam com ela acalmada
 
   
  Não estou aqui pra acudir gente
Nem tão pouco pra brigar
Não sou do deixa disto
E nem gosto de falar
Pra não dizer asneira
É mior calar
 
   
  Eu como estava presente
Olhando e vendo tudo
Escrevendo esta história
Pois nem sou cego nem mudo
Sei que entre morto e ferido
Escapo todo mundo
 
     
 
FIM