Nestes versos existem vários erros de Português, como sintaxe e concordâncias. Estes erros são cometidos para que haja rima entre os versos. |
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No ano de 82
A certo tempo passado
Eu vi grande desmantelo,
Num pequeno povoado
Cinco horas da manhã,
O sol já tinha raiado. |
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Houve uma grande festa
No povoado Melancia,
Que lá o fole roncou
Até manhecer o dia,
Depois de tudo acabado,
Apareceu valentia. |
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Um forró bem animado
Que levantava poeira,
A data estou esquecido
O dia foi quarta-feira,
Até velha caiu na dança
Foi aquela fuzueira. |
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Surgiu uma dança nova
Que chamam de São Paulinho,
É uma dança ligeira
Um tal de puladinho,
Só falta aparecer
A dança do inferninho. |
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Tinha uma velha dançando
Que dava lição as mocinhas,
Não sentava os pés no chão
Pela rapidez que tinha,
Aquela dançou no inferno
Assim me disse a vizinha. |
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Vou mudar de assunto
Deixando a festa de lado
Vou contar como foi
A briga no povoado
De onde surgiu o destroço
E o desmantelo criado |
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Quando a festa terminou
Foram mais de dez convidados
Pra tomar uma pinguinha
E bater um papo furado
Foi aí que aconteceu
O que não era esperado |
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Não sei se foi mal entendido
Ou se foi premeditado
Eu sei que formou o barulho
E o desmatelo criado
Começaram dentro de casa
Foram muitos moveis quebrados |
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Foi de faca e de punhal
Canivete e facão
Reio cru, cacete
Taca, espora e gibão
Teve ate macaio de boi
Pra completar o batalhão |
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Antes de aparecer
A turma do deixa disto
O barulho já formado
Como nunca tinha visto
Entrou mulher pelo meio
Segurando o seu quiço |
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Pulou fora pra o terreiro
Com um mancaio na mão,
A mulher vinha azeda
Disse: Bato até na mãe do cão,
Dava pulo e ponta pé
Que eu vi o pelo do gibão. |
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A turma do deixa disto
Que já se achavam presente
Começaram logo agir
E alcampar os valentes
Onde já tinha um gritando
Agarrado nos dentes |
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Vou contar pra vocês
Como foi a confusão
Como era que brigavam
No meio do barulhão
E os que levaram pancadas
Qual foi a reação |
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Teve um que tomou taca
Pela cara que tinia
Não podendo descontar
Como cobra se mordia
Era uma raiva tirana
Na hora que o pau decia |
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A mulher que ali estava
No meio da confusão
Pulava e suspendia a saia
Com o vergalho na mão
Gritando: chaga marido!
Mata este filho do cão |
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Ela deu um ponta pé
E caiu de mal jeito
Levou uma raladura
E desmentiu o regeito
Eu sei que neste momento
Já estavam brigando no beco |
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Pizaram numa cachorra
Magra e empestada
Um cara do deixa disto
Saiu com a calça melada
O xexéu ninguém guentava
Me parecia privada |
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Com um cara muito afoito
Esta foi de amargar
No meio da confusão
Eu vi o cara pular
Caiu com o rosto numa tuia (ruma de fezes)
E não teve tempo de limpar |
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Eu pude observar
Que no meio da confusão
A mulher estava pulando
Me parecia lampião
Brigando de todo jeito
Com o macaio na mão |
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Sapecou o vergalho
Nas costas de um ciclano
Que o vinco logo saiu
Eu vi por debaixo do pano
Vi também que o sujeito
Cagou se não me engano. |
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Seu marido deu um soco
Na boca de um xexéu
Seus dedos ficaram seguros
Na boca do tabaréu
E ele ficou gritando
Valei-me meu Deus do Céu! |
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No meio da confusão
Apareceu um pinico
Arremessaram na cabeça
Dum cara do deixa disto
Foi grande a pinicada
Que o cabra caiu catando cisco |
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Foi a briga se alastrando
Por todo o povoado
Quem estava no bom sono
Havia logo acordado
Quem estava com vontade
Saiu logo pra ver o estrago |
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Nos quatro canto da rua
Só se ouvia o pau comer
A turma do deixa disto
Não sabia o que fazer
Entraram também na briga
Que fazia pena se vê |
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Um cara do deixa disto
Pulava mais que macaco
Deu um soco tão forte
Que desmentiu o braço
O cabra caiu quieto
Pois acertou no cachaço |
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Outro saiu do beco
Com uma lata na mão
Deu uma latada tão grande
Pensei que era um trovão
Acordou quem ainda estava dormindo
Foi um barulho do cão |
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Um pulava par cá,
Outra arrastava para lá,
Um saiu de quatro pés
Levou um chute naquele lugar,
Aquele saiu quebrado
O que tinha de quebrar |
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Teve um que estava bêbado
Entrou na confusão
Levou um ponta pé
O lugar não digo não
Este caiu na gandaia
Segurando com as mãos |
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Teve mais um afoito
Que em todas se achava
Dava tapa e tomava
Mas a briga não acabava
Levou um chute por detraz
Que o sapatão quase entreva |
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A mulher não se cansava
Passava até capoeira
O vestido não se fala
Ficava naquela maneira
E o malandro lá de fora
Gritava:Olha a carteira |
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A mulher baixou a macaxeira
Deu um chute por detraz
O fulano saiu rodando
Aquele não voltou mais
E ela ficou zombando
E assim que mulher se faz |
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A dita cuja pula
E não soltava o mancaio
Gritava em toda altura
Estou virada no sarraio
Se eu estivesse com uma faca
Lhe mostrava logo o taio |
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O mancaio quando subia
Era certeira a pancada
O vinco logo subia
A calça era melada
A suplicante quando batia
Não escolhia camarada |
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Apareceu um sarí de fumo
No meio do desmantelo
Deram uma cacetada
Mas o fulano foi mais ligeiro
Acertou no mais bobo
Que caiu como carneiro |
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Teve um que foi entrar
Na casa com rapidez
Levou um chute na bunda
Que entrou de uma vez
Bateu a cabeça na portada
Caiu por cima de três |
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Uma velha fuxiqueira
Daquelas que usam e gostam
Saiu para ver o barulho
Ficou ali encostada na porta
O vergalho logo baixou
Subiu um cheiro de bosta |
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Ate que melhor
Foi acalmando a zoada
O último empurrão que ví
Esta não fez mais nada
A turma do deixa disto
Estavam com ela acalmada |
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Não estou aqui pra acudir gente
Nem tão pouco pra brigar
Não sou do deixa disto
E nem gosto de falar
Pra não dizer asneira
É mior calar |
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Eu como estava presente
Olhando e vendo tudo
Escrevendo esta história
Pois nem sou cego nem mudo
Sei que entre morto e ferido
Escapo todo mundo |
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FIM |
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