Nome:
Maria Ximboca no Forró.
Tema:
Festa, Valentia e Luta
Autor:
José de Arestides de Oliveira
Local:
Povoado Melancia, Nova Soure Bahia
Data:
1987
Estrofes:
42 de seis versos de sete sílabas (sextilhas)
Esquema de Rima:
Das sextilhas: xaxaxa; das septilhas: xaxaxa (rima chamada aberta, porque o 1º e 3º não rimam com nenhum outro).
Final:
Estrofe normal

Nestes versos existem vários erros de Português, como sintaxe e concordâncias. Estes erros são cometidos para que haja rima entre os versos.
     
  O mundo é completo
De tudo nele há
Se necessitamos de algo
Não é difícil encontrar
Não existe nada perdido
Que não se possa achar
 
   
 
Tem os viciados no fumo 
Que não ficam sem pitar
Uns gostam de forró
E não ficam sem dançar
E quem saboreia a cachaça
Nunca deixa de bicar
 
   
 
Uns adoram o torrado
Que se chama rapé
Outros dizem: eu sei que morro
Se me faltar café
Para mim pode acabar o mundo
Se me faltar as mulher
 
   
 
Quem gosta disto ou daquilo
Isto não me intereça
Vou falar em Ximboca
E também de suas festas
Porque no mundo não existe
Outra Maria Ximboca como esta
 
   
 
Na roça quando tem festa
Numa casa de sapé
Um careta com pé de bode
Anima mesmo as mulheres
O fole ronca à noite inteira
Ate a hora do café
 
   
 
Foi no alto do boquete
Que Maria Ximboca nasceu
Perto do Tanque Novo
Onde mora um tio meu
Por lá mesmo se criou
E onde dançar aprendeu
 
   
 
Ximboca nasceu
Numa noite de forró
No meio do salão
Filha de Xica Dó
A mesma estava dançando
Com um negro do Mocó
 
   
 
O forró estava animado
Xica Dó de barrigão
Não suportando o som do fole
Entrou no salão
Dançava de todo jeito
Agarrada com um negrão
 
   
 
Era pulo e umbigada
Admirava quem estava ali
O negrão bem espantado
Dava pulo de tinir
E o povo já dizia:
Xica Dó vai parir
 
   
 
Quando foi a meia noite
Xica Dó deu um impino
Bem no meio do salão
Dava a luz um menino
Mandaram parar o fole
A Xica Dó estava parindo
 
   
 
Foi assim que Ximboca nasce
u Com um destino dos pior
Nasceu com o som do fole
Bem no meio do forró
Se criou na putaria
Pra dançar não tinha melhor
 
   
 
Ximboca aos see anos
Já dançava pra valer
Na aldeia do Boquete
Fazia a cana moer
Dançava de todo jeito
Que dava gosto de se vê.
 
   
 
Aos doze anos de idade
Ximboca foi convidada
Pra ir dançar numa festa
Na casa de Maria Tapada
Dançou tanto nesta noite
Saiu com a chinela furada
 
   
 
Agarrou com um negrão
Em cara dos Buqueteiros
Formou aquele par
Cada qual mais ligeiro
Fizeram buraco no salão
Como tatú verdadeiro
 
   
 
A poeira cobriu
No meio do salão
Não se via a Ximboca
Nem tão pouco o negrão
A pé de bode roncava
Parecendo um barrão
 
   
 
O negrão deu um pulo
Que todos deram fé
Ximboca caiu por baixo
E desmentiu o pé
Até o fole na hora
Caiu das mãos de Quelé
 
   
 
Foi formado o barulho
O fole foi rasgado
Furaram o pandeiro
E o candeeiro amassado
Foi faca de todo jeito
E tiro por todo lado
 
   
 
Deram um tapa em Quelé
Espatifaram uma porta
Saiu logo um mal cheiro
Que quase ninguém suporta
Com um sarí de fumo
Enfiaram em Ximboca
 
   
 
João cangaia deu um sôco
Que desmentiu o braço
Houve a morte do negrão
Pois quebrou o cachaço
Empurraram uma travessa
Na filha do Inácio
 
   
 
Tinha um velho quentando fogo
Fumando o seu charuto
Levou um tapa na boca
Que engoliu com o susto
Ficou atordoado
Parecendo um maluco
 
   
 
Como o velho ficou louco
Pois tinha engolido o pito
Entrou debaixo da saia
Da mãe de Agapito
E a velha ficou pulando
Dizendo: sai daí maldito
 
   
 
Agapito quando vio
Aquele paracé
Rançou o velho debaixo
Da saia da mulher
Caiu por cima de uma suplicante
Que estava fazendo café
 
   
 
A dona de casa
Foi saltar a janela
Levou um retrocesso
Caiu dentro da gamela
Foi um baque muito forte
Que quase destampa ela
 
   
 
Tinha um careta namorando
Estava bem destraido
Levou uma tijolada
Bem em cima do ouvido
Caiu como carneiro
Que nem se quer deu um gemido
 
   
 
Só se ouvia vala-me Deus
No meio da confusão
Pisaram Maria Ximboca
Vem em cima do blusão
Deram um chute nas bobagens
Do filho de Simão
 
   
 
Deram um chute na barriga
De Maria Tapada
Que voou a tampa
Pois se achava fechada
Quebraram o nariz
Da mulher de Zé Taiada
 
   
 
Era pulo e ponta pé
No meio da gandaia
Dona Chanxa Taioba
Esta perdeu a saia
Nesta hora furaram o bucho
Do filho de João Cangaia
 
   
 
Tinha mulher, homem e menino
Até por debaixo das camas
Estavam eles espremidos
Com porco dentro da lama
Mataram esmagado
O filho de Sinhá Ana
 
   
 
Deram um grande empurrão
Na filha de Xica Dó
Caiu de pernas abertas
Balançando o mocotó
O senhor chula levou
Um chute no bozó
 
   
 
Gritaram por Bernadão
Esta já tinha corrido
Lá pelos fundos da casa
Só se ouvia gemidos
Mulher procurava o filho
Outras procuravam os maridos
 
   
 
A filha de Taioba
Quando viu a confusão
Subiu na Cantareira
E entrou num porrão
Ficou com a cabeça de fora
Olhando o barulhão
 
   
 
Teve moça que correu
Junto do namorado
Ficaram assim os casais
Lá no mato fechado
Quem quis aproveitar
Não importou com o estrago
 
   
 
Chico Preto se gabaca
De ser bom de capoeira
Deu uma sasarícada
Na filha de Doca Parteira
Que esta bateu o bum-bum no chão
Que rachou até a carteira
 
   
 
Chico Preto quando olhou
Que a negra ali caiu
Disse: Oxente, eu pensei de ser
O filho de Zé de Biu
Puta merda que engano
Ora esta: Já se viu?
 
   
 
Deu um rabo de arraia
Num afoito que pulava
Era um tal de Breu
Que na briga se achava
Bateu com o breu no chão
Que quase no meio rachava
 
   
  Zé graviola saiu á toda
Lá de dentro da cozinha
Na passagem da varanda
Levou um chute na espinha
Bateu a cabeça na portada
Quase não come mais farinha
 
   
 
Julieta saiu correndo
Na frente entropesou
Caiu dentro de uma cuia
Que a cabeça lascou
Ainda virou um pinico
Que estava cheio de cocôr
 
   
 
Jose Lotero com um punhal
No meio do salão
Furava todo mundo
Em plena escuridão
Recebeu uma cacetada
De mão de Pilão
 
   
 
Clementina moça velha
Que gosta da putaria
Ficou detraz da porta
Pensando que alguém não via
Levou pau de todo jeito
Que quase o pobre morria
 
   
 
Entre mortos e feridos
Fazia pena se ver
Foi um estrago medonho
Que não podia acontecer
Com moças fizeram coisas
Que eu não posso dizer.
 
   
 
E assim é Ximboca
Moça Velha e ainda dança bem
Não dança pra valer
Pois não acha com quem
Com a tal da discoteca
Os homens não querem ninguém
 
   
 
Um abraço apertado
Para meu amigo leitor
Vá ficando com a Ximboca
Com carinho e muito amor
Zele bem da sua Ximboca
Pra seu amigo escritor.
 
   
 
FIM